sábado, janeiro 28, 2006

Soneto do amor total

"Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade?.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito a amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude."

In Livro de sonetos de Viniicus de moraes

"Entre uma enorme quantidade de flores, há sempre uma especial""

Nunca fui grande admirador de flores. Nunca admirei muito a natureza. Nunca soube admirar...
Mas naquele dia estava triste e segui o conselho de um amigo, fui ver o pôr-do-sol.
Percorri estradas que pareciam não ter fim, passei por montanhas e vales e fui, decidido, rumo ao pôr-do-sol. Não tinha tempo a perder. O sol começava a baixar e eu corria cada vez mais depressa. Queria ver o pôr-do-sol de pertinho. Se me perguntarem por onde passei, não sei dizer. Só sei que percorri montanhas e vales e muitas estradas...
O sol ia sempre descendo. Eu corria, corria... mas o sol parecia correr mais depressa que eu...
Cheguei a um alto monte, á minha frente um precipício parecia querer engolir tudo o que se aproximava. Mas este monte era o ideal. Eu não podia avançar mais e dali avistava quilómetros e quilómetros á minha frente, mas sempre na esperança de que o sol se escondesse ali pertinho de mim. O sol estava quase a pôr-se. Á minha volta havia um silêncio, que a brisa perturbava de vez em quando assobiando baixinho. Estava quase na hora da "cerimónia". Eu estava a gostar daquele ambiente. Mas quando chegou a sua hora o sol pôs-se... lá ao fundo daquele horizonte. A minha vista só distinguia uma luz forte que parecia enterrar-se entre o céu e a terra. Ali estava eu, triste a observar aquele espectáculo. É verdade que era maravilhoso observar o pôr-do-sol, mas eu que esperava vê-lo ali pertinho de mim, só podia avistá-lo ao longe. Mas mesmo assim fiquei ali, triste a olhar o pôr-do-sol.
Quando já estava tudo escuro, decidi regressar ao meu canto. Toda a gente tem um canto. Eu também tinha o meu. Aquele canto onde eu chorava e ria, aquele canto onde desabafava e falava sozinho. Era o meu amigo, aliás, era o meu único amigo que me escutava e permanecia calado. Não aconselhava, não refutava, apenas escutava. Agora regressava rumo ao meu canto. Tinha corrido tanto para ver o pôr-do-sol de pertinho e enganei-me.
Pelo caminho caí várias vezes... estava tudo tão escuro! Comecei a desejar que o sol voltasse muito rápido. Depois caí mais uma vez. Ali fiquei caído... e adormeci. Quando acordei, a escuridão tinha desaparecido. O brilho do sol fazia-se chegar a todo o lado. Eu segui na direcção do meu canto. Acho que fiquei contente por ver de novo o sol que iluminava tudo á minha volta. Então retomei o meu caminho, mas com muita calma... fui admirando a natureza. Descobri que a natureza é maravilhosa. Tantas flores tão belas e cada uma diferente da outra. Campos verdes, pássaros que entoavam melodias maravilhosas. Entre as muitas flores uma chamou-me à atenção. Era uma flor bem pequena, mas era admirável. Parecia uma que eu já tinha conhecido. Não sei se a consigo descrever, e por melhor que o faça não fica nada parecida. Mas ela era pequena, tinha dois botões verdes e umas folhas que pareciam aconchegar esses botões. As pétalas de um tom avermelhado tornavam-na ainda mais bela. Eu parecia um miúdo de alguns meses a olhar para a luz ofuscante de um sorriso.
Fiquei tanto tempo a olhá-la. Primeiro de um lado, depois de outro e de frente. Foi a primeira vez que soube admirar a beleza de alguma coisa.
Depois tive de regressar ao meu canto. Demorei algum tempo, mas quando estava a chegar, vi uma flor exactamente igual àquela que eu tinha visto, só que esta última era minha vizinha. Morava mesmo pertinho de mim. Então decidi perder com ela a maior parte do meu tempo, porque ela era o meu tesouro. Algumas pessoas chamavam-me louco, mas eu nem ligava.
Aprendi a viver e a olhar a vida de uma forma positiva. Eu tinha nascido outra vez. Eu tinha descoberto que muitas vezes as coisas belas estão tão perto de nós que nós nem as vemos. Aquela flor tornou-se no meu canto e abriu-me os olhos. Quando estava triste, observava o pôr-do-sol, do meu canto, na companhia da minha flor. Sim, era minha. Já tinham passado alguns dias e ninguém a tinha reclamado. Agora a minha vida estava dependente da minha flor. Eu era livre e ao mesmo tempo estava preso àquela flor. Nunca mais voltei a estar sozinho, e transformei-me num grande admirador de flores. Aprendi a admirar a natureza.
A essa flor quis dar-lhe um nome... e porque foi com ela que eu aprendi a ler a natureza, e porque ela tinha dois botões verdes e umas pétalas de tom avermelhado... chamei-lhe Lena.



S.P.


EU ? OU EU ?...

EU ? OU EU ?...

Tinha-se posto o sol. a tarde estava a terminar, iniciava-se a noite. Noite clara, temperatura amena, no céu deixavam-se ver algumas estrelas.
Ali na praia, avistava-se o horizonte, o mar calmo, silencioso. O mar que acarinhava a areia e beijava docemente as rochas...
Eu estava ali. Sozinho, a pensar na vida. Aquele ambiente deixava-me com o eu que trazia dentro de mim. Angustiado, cheio de ansiedade, nostálgico comecei a conversar. Voz branda, como se alguém estivesse por perto a querer ouvir. Mas ele não dialogava, só reclamava...reclamava...e eu não o podia contentar.
Eu era medíocre, satisfazia-me com pouco. O outro eu dentro de mim era exigente, queria sempre mais…eu buscava um sentido para a vida, uma vida simples, sem grandes exigências. O outro eu, queria algo mais, sem olhar ás dificuldades. A mim parecia-me um inocente...
Eu olhava o mar que batia nas rochas suavemente, quando podia bater com mais força, se o mar fosse mais agressivo podia transformar as rochas em areia fina e teria mais por onde se estender…Tentava assim justificar a mediocridade...
De repente fez-se alta noite. a temperatura baixou, o frio chegava com uma brisa ao deleve.
No céu as poucas estrelas que havia deixavam-se tapar por algumas nuvens que apareciam. O mar começava a discutir com as rochas, e na areia ia batendo violentamente. Desta discussão surgem ondas maiores, começava-se a ouvir em alto som, as ondas a bater nas rochas, e estas quase sentiam chorar.
a minha tese fracassou. O outro eu dentro de mim, exigente, que queria sempre mais, tinha razão. Eu não me podia satisfazer com pouco.
Fui para casa a "pensar na discussão do mar com a areia e as rochas...
No outro dia lá estava eu no mesmo local. No início tudo calmo, depois vem a noite, a alta noite, com o vento tudo se transforma, mas no dia a seguir tudo voltava a acalmar e assim sucessivamente. Pareciam-me umas brigazitas de uns namoraditos em que a discussão acabava numa troca de carinhos. Comecei a ver aquilo como o amor. Comecei a amar o outro eu dentro de mim e desse amor descobri um sentido...o amor. Descobri que o único sentido da vida é o amor. Descobri que o amor só se encontra com o amor. E isto era exigente. O amor clama por mais amor.
Afinal o outro eu dentro de mim tinha razão.
S.P

Hoje é Natal ???

Hoje brilha mais uma estrela no céu.
Hoje essa estrela é mais divina...
Cala-se o vento que à terra desceu,
Sopra a brisa de colina em colina.
Hoje algo mais aconteceu
Além do brilho dessa estrela,
Calou-se o vento,soprou a brisa
Porque uma criança nasceu...
Quem dera vê-la !!!
Porque nasceste?
Porque vieste?
Onde ninguém te acolheu...
Só os pastores, pobres campestres
Te deram aquilo que ninguém deu.
Hoje há festa em todas as casas
Há luz nas janelas,
na fogueira há brasas.
Mas tudo passa...
E se calhar este calor que se sente no ar
Não chega aqueles que pedem amor...
E uma vez mais ninguém te recebe
E este dia passa ao redor.
E eu pergunto :
Que se passa afinal ?
Brilha a estrela,
cala-se o vento...
É isto o Natal ???

OLHAR…

OLHAR…

Em cada olhar,
Está uma mensagem por escrever,
Está um temperamento diferente
E uma diferente maneira de ver.
Mas há olhares iguais,
E ao olhar a gente sente
A diferença entre os demais,
Nesse olhar que não nos mente.
"Foi assim que olhei para ti,
E ao sentir não pestanejei
Os olhos que não esqueci
E a mensagem que decifrei.
É um olhar que não fala,
Diz tudo de uma vez
E quem olha não cala
O olhar que se fez.
Mas olha os olhos meus,
Que são um livro aberto
O que leio eu nos teus
Lês nos meus estou certo.
S.P.

HÁ SEMPRE ALGO...



Há sempre algo que acontece,
Algo que não é sonhado.
Há sempre uma primeira vez
Há sempre um olhar...
Que nasce de outro trocado.
Há sempre um sentimento
Que surge por mero acaso,
Que nasce de algum momento...
E por vezes de algum atraso.
Há sempre uma vontade enorme
De querer e de fazer...
Há sempre algo que consome,
Esta vontade sem nome...
De querer...de fazer...e não saber.
Há sempre vontade de sentir
Sem saber o que se sente...
Há sempre vontade de fingir
Que o sentimento está ausente,
E se finge não sentir...
Que na verdade se sente.

S.P

Eu …




Eu sou único e não tenho um igual,
E estas cicatrizes são só carinhos,
As minhas lágrimas sabem a sal,
e meus lábios a doces rebuçadinhos.

Mas estes meus olhos acastanhados,
postos neste rosto cicatrizado,
parecem estar abertos e fechados,
e trazem na memória o passado.

Não me encontro e ando à minha procura,
E às vezes sem dormir tenho sonhado,
E oiço soluçar numa noite escura.

Mas eu que acredito nesta quimera,
Sou o personagem do soinho alado,
Descobri quem eu sou e quem não era.

Fica?!

Fica sempre um talvez..

À nossa espera.,.
Nessa melodia que se canta
Sem querer...
Esta força que nos fez,
Esta quimera...
Este sonho que nos encanta,
Esta vontade de ser.
Fica sempre um outro olhar,
Uma recordação…
Um sorriso, um gesto, um sentir,
Um perfume que se sente ao passar…
E um beijo que se atira a fingir.
Mas fica sempre um talvez,
À nossa espera...
Ê essa melodia talvez se cantará,
Num sonho...numa promessa de voltar,
Ou apenas numa simples quimera,
Na aventura desejosa que é amar.
S.P.